A partir de 14 de fevereiro, a Galeria de Artes do Sesc Arsenal abre as portas para a exposição “Travessia”, da artista mato-grossense Emanuelle Calgaro, 46 anos. Conhecida por seu traço delicado e cheio de vida, Emanuelle apresenta obras inspiradas nas aves brasileiras, explorando cores e detalhes que encantam o olhar.
As desenhos da artista já viajaram por diversos países, como Alemanha, Portugal, Estados Unidos e Itália. Em 2024, Emanuelle Calgaro conquistou o Prêmio Arte Anima Latina, na Mostra de Arte Latino-Americana, na cidade italiana de Perugia. O reconhecimento como favorita do público reforça a força de sua obra e sua conexão com diferentes culturas.
Agora, a exposição desembarca em Cuiabá para uma nova etapa dessa jornada artística. A entrada é gratuita! E o Mosaico MT conversou com a artista para saber mais sobre seu trabalho. Nesta entrevista, a artista compartilha detalhes sobre seu processo criativo, inspirações e a emoção de ver sua arte conquistando o mundo.
Emanuelle explica que, para ela, as aves são mensageiras de Deus e simbolizam a liberdade que as pessoas buscam na vida. A artista não escondeu o frio na barriga: “Eu costumo dizer que é também como um espetáculo de teatro, também sou atriz, então é a mesma sensação de quando você vai entrar no palco. É o frio na barriga, a ansiedade, o nervoso, para que tudo fique da melhor forma possível para apresentar para as pessoas.”
Confira a entrevista:

Qual foi o momento em que você percebeu que queria ser artista visual e como foi sua jornada até aqui?
Iniciei aos 9 anos. Quando desenhava para passar os longos invernos no Sul e isso entrou na adolescência e vida adulta. Em 2002 vim para Mato Grosso e me inseri juntos aos artistas daqui. Trabalhava com acrílico sobre tela. O momento crucial foi pós pandemia. Estava afastada das artes plásticas, e por ter que permanecer reclusa, voltei a desenhar, explorando o tema dos pássaros e a técnica dos lápis aquareláveis sobre papel.
O que te inspira?
Eu me inspiro em meus processos de despertar internos, nos trabalhos de autoconhecimento. Cada série que desenho está relacionado a algo em mim que precisa ser transformado, curado, liberado.
Quais foram os desafios e as conquistas em sua formação artística?
Os desafios continuam, primeiro sendo mulher, artista e residindo no Brasil. Ainda precisamos lutar por espaços que deveriam ser nossos naturalmente. E especificamente, em Cuiabá, precisamos de mais espaços expositivos, como galerias, museus. As artes visuais em MT estão esquecidas. Precisamos relembrar da efervescência que este movimento tinha, como era na época do ateliê livre na UFMT, com o trabalho da Aline Figueiredo e do Humberto Espíndola. Isso não pode ser esquecido! A conquista mais relevante em 2024 foi ter sido escolhida por votação popular, a artista favorita do público na 5 Edição do Prêmio Arte Anima Latina, o qual ganhei uma bolsa para estudar por 30 dias a língua e a cultura em Perugia – Itália. Vou desfrutar da bolsa em maio de 2025. Ainda em 2024, também por votação popular, ganhei um prêmio para expor na Áustria em setembro de 2025.
Você utiliza técnicas específicas como lápis aquarelável e giz pastel seco sobre papel Canson Montval. Pode nos contar um pouco sobre o processo de criação e como essas técnicas ajudam a dar vida aos seus trabalhos?
Os lápis sobre papel me ajudam a ter mais controle sobre o desenho, me ajudam a trabalhar de forma mais precisa e detalhada. Foi uma experiência que deu certo!

Sua nova exposição, “Travessia”, traz uma forte presença de pássaros brasileiros e do Pantanal. O que esses pássaros significam para você?
Percorro horizontes nas asas dos pássaros que desenho. Busco neles não apenas inspiração, mas que o processo de pesquisa e produção, o entender e sentir “ser pássaro”, façam com que eu me atreva a me tornar pássaro, ganhar asas e voar. São presença no nascer e no por do sol. Cantos, revoadas, encantos. Pássaros em voo são mestres em duas asas, livres, vem e vão quando querem. Olhos atentos, penas macias, desalinhadas. Veem a paisagem sob outra perspectiva, no mínimo diferente da nossa, do céu para a terra. Lançam-se inteiros no vazio. Voam rápido, fazendo manobras, desafiando a gravidade, riscando o azul do céu com o colorido de suas asas. Nada os limita!Sou atraída pela liberdade ousada de seus voos. Os vejo como seres multidimensionais, sem fronteiras migratórias. Levam e trazem histórias. Eles são para o que vieram, ser pássaro! Junto deles surge a flor da vida, como um portal que possibilita a travessia. Por ali passam certezas e incertezas que podem cruzar o caminho a se atravessar. Portas abertas, sem a necessidade de chegar e ficar. Posso ir e voltar. Passado e futuro. O ciclo infinito do nascer e morrer para continuar. O lado de cá e o lado de lá.
Você vai exibir suas obras na Itália entre maio e julho. O que espera dessa experiência?
Procuro não criar expectativas, mas estou ansiosa para ver a forma como as obras irão (ou não) impactar aquele que vê. O simples fato de viajar, estar em outro horário, outro clima, outra língua, outra cultura, já é um prato cheio para pesquisa e exploração. Costumo não estudar nada e não ver nada sobre os países os quais vou visitar. Gosto de ser impactada pelo momento presente, me permitindo criar memórias afetivas daquele instante. Isso depois se torna outra coleção e outra e outra….

Quais são seus planos para o futuro após a exposição na Itália?
Inicie uma terceira coleção em maio de 2024 quando estive na Espanha. Esta coleção está ganhando corpo e logo devo finaliza-la. Aí retornar da Itália, meu foco de atenção estará voltado para finalizar e apresentar esta exposição ao público.
Para aqueles que estão começando a se interessar pelas artes visuais, qual seria a sua maior recomendação? Como encontrar sua própria voz artística, e como se manter motivado em um caminho tão exigente?
Disciplina, pesquisa, estudo, observação constante, como em qualquer outra profissão. De o seu melhor, cem por cento do seu tempo! Resiliência e persistência. Não desistir! Se exercitar diariamente, uma hora acontece!
Se você pudesse resumir sua missão enquanto artista, qual seria a mensagem que gostaria de transmitir ao público por meio de seu trabalho?
As artes visuais, os desenhos são o meu propósito de vida na Terra. Eu demorei a encontrar o meu propósito, mas agora que o sei, eu sigo minha intuição e entrego minha mensagem para a humanidade a partir dos meus desenhos. Sou uma atravessadora de mundos, os desenhos, camadas de frequência e cor em forma de pássaro.













